quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

ARRASTÃO NAS IGREJAS

 


ARRASTÃO NAS IGREJAS





 
 
Já fazia algum tempo que eu não via um pastor, grande amigo meu, cordato, ponderado e equilibrado em termo doutrinário. Por algumas vezes ele tinha me procurado e convidado para assistir um culto de prosperidade. Ele sabe das minhas resistências quanto a estes cultos que chamo de “repléplé”. Doutrinariamente, está no contexto de Apocalipse 3.18-29, na carta à igreja de Tiatira, a doutrina Jezabel.


No dia acertado, nos encontramos em um local não muito perto da igreja. Enquanto tomávamos um café, íamos colocando as conversas em dia. Falamos da família, ministério e outras coisas mais. Num certo momento ele começou a contar uma história recente, um tanto inusitada. Estivera com a família em uma praia no litoral carioca e algo extraordinário aconteceu.
Alugaram uma dessas barracas grande, familiar, ele e sua família, bem acomodados, num dia ensolarado etc. Estavam um pouco atrás da parte central da praia, o que lhes dava uma visão “abençoada”, da alegria e descontração daqueles que ali estavam. Praia cheia, como de costume.
Em um determinado momento, três homens, vestidos de guarda-vidas, destes praianos, com sacolas grandes, abertas nos braços, gritavam em alta voz que aquilo era um assalto.


Ele olhou para o lado direito, lá estavam posicionados, estrategicamente, mais três homens, do lado esquerdo a mesma coisa, mais três homes, todo vestidos de guarda-vidas. Em questão de minutos eles roubaram tudo o que podiam. Carteiras, celulares, óculos, chinelos, camisas de grife etc. Imediatamente entraram todos em uma vã, e sumiram “no mapa”.


A expressão deste amado pastor me impressionou:
- Bando de Ladrões, arrastão na praia.


Chegamos à igreja, pomposa, apoteótica, exuberante, aproximadamente dois mil lugares incluindo as galerias. Fomos conduzidos para um lugar de destaque, nas primeiras fileiras. Confortavelmente instalados.


Começou o culto com um breve aviso, e imediatamente a liturgia com cânticos animadores, verdadeiras “injeções” de fé. Muito rapidamente a igreja ficou cheia. Impressionou-me a participação de todos. Como estava um pouco quente, convenci o meu amigo pastor de irmos para a parte de trás. Acomodamo-nos em um lugar que tínhamos uma visão ampla do templo.


Um detalhe: Percebi de cada lado, junto às janelas, quatro varões, estrategicamente posicionados. Três outros varões estavam na frente junto aos lugares das ofertas. Na parte de trás, mais três varões, e todos eles eram identificados por um colete com cores, apesar de claras, mas se distinguiam entre o povo.


Deu-se o primeiro ato de ofertas, eu disse O PRIMEIRO. O pastor amigo me cutucou.

Foi mais ou menos assim:
- Irmão e irmãs, amigos e amigas, independente da sua denominação ou fé, o certo é que você vai sair daqui abençoado, querendo o diabo ou não, você vai sair daqui abennnnnnnçççççooooaaaaddddoooo.
Comece a profetizar isto sobre a sua vida, e de um seu primeiro passo de fé trazendo a sua PRIMEIRA oferta de fé. Eu disse fffffééééééééé...


E lá foi o povão, estimulado por uma música frenética, creio estratégicamente escolhida para aquele momento. Gritaria, alvoroço, gritos frenéticos, chamem de tudo menos de louvor e adoração.


Voltaram para os seus lugares, uns se abraçavam, outros davam gritos, alguns até falavam em mistério e profetizavam.


A primeira ministração estava baseada na palavra de incentivo de que: O TAMANHO DA SUA FÉ, É O TAMANHO DA SUA OFERTA.
Sinceramente não sei quantas vezes eu ouvi este chavão, mas o suficiente para não me esquecer dele tão cedo.


Apenas dez minutos. Eu disse dez minutos, e veio o segundo apelo, ou a segunda oferta.
Disse o pregador (o mesmo):


-Quantas vezes você quase colocou a mão na sua benção?.Pense e diga, quantas vezes? Ela estava ali, na sua frente, e você não conseguiu alcançá-la. Você viu, percebeu nitidamente que era sua, foi deixada ali única e exclusivamente pra você, mas você não alcançou. Agora me responde com sinceridade, você não alcançou por causa da sua fé ou da sua atitude?
A fé você tem, ela está ai, como sempre, como naquele dia, mas faltou atitude. Hoje você vai tomar uma atitude, hoje não agora...aaaagggggoooorrrraaaaaa....
Traga a sua oferta de atitude, dando passos largos de fé, como quem sabe o que está fazendo. É deste modo que você não vai deixar a benção passar, mas vai agarrá-la com as forças da sua fé, simplesmente por causa desta sua atitude...aaaaggggoooorrrraaaa....


E lá foi o povão outra vez. Eu estava impressionado pela obediência. Mais gritaria, mais abraços, mais mistério e profecias. O clima era apoteótico.


Deu-se mais uma ministração. Agora, era que a fé precisava ser completa. Muitas vezes a nossa fé não se completa, por duvidarmos em nós mesmos. Talvez diante de uma situação muito difícil, ou quem sabe uma benção tão grande, que achamos que não é nem pra nós, duvidamos, simplesmente duvidamos. Deus não suporta isto, a fé tem que ser completa. E lá foi o terceiro apelo para a oferta “QUE LANÇA FORA TODA A DÚVIDA”.


-Vem aqui na frente, toque no altar, faça a sua oração de confissão, de que você não vai duvidar, e coloque uma oferta abençoada para espantar toda dúvida. Nnnnnnnãããããããõooooo dddduuuuvvvviiiiddddeeee...seja corajoso. O tamanho da sua oferta é o tamanho da sua fé. (sutilmente ele inverteu o sentido como na primeira vez)


Eu disse para o meu companheiro: -Vamos embora. Ele responde em tom de brincadeira; -Você não vai dar a sua oferta. Resolvi ficar mais um pouco.


Veio outra ministração. Era com respeito ao egoísmo. Afinal a benção não é só para nós. É dando que se recebe, disse o pregador.


-Pense na sua casa. Você quer a benção só para a sua vida. E seu pai, e sua mãe, e seus irmãos e até os seus sonhos. Faça um voto de vitória sobre eles. Por causa de um justo Deus pode abençoar uma casa inteira, e este justo é você hoje aqui. Traga uma oferta de justiça diante de Deus. Você estará intercedendo com atitude de fé sobre a sua casa. Maaaaannnddddeeee aaaa bbbbeeeennnnçççããããoooo ssssoooobbbbrrrreeee aaaa ssssuuuuaaaa ccccaaaassssaaa....


E lá foi o povão mais uma vez. E ai o mistério e a profecia foi em exaltação. Ficamos impressionado com as pessoas independentes de idade ou o que se nomeie. Era uma verdadeira ovação.


Mais uma ministração. Desta vez impressionante. Era a quinta oferta.


-Lembra daquele cheque, ou daquela divida que você contraiu, e que colocou quase tudo na sua vida a perder? Pois bem. Maior é Deus do que as suas atitudes impensadas...
Você precisa provar pra Deus e pra você mesmo que sua confiança (isto dito aos gritos), estttttaaaaaaaa emmmm Deuuuussssss.
Você precisa dar uma oferta maior do que aquele cheque ou compromisso que você fez impensadamente. Traga seu cheque de maior valor, escreva num papel seu endereço com telefone e o valor que nós iremos te ajudar. Prove que a sua confianççççççaaaaaa está em Deus. Uma benção maior virá sobre a sua vida. Você verá que aquela divida é nada, perto da benção que Deus vai enviar sobre a sua casa...
Vaaaammmmmoooooosssss, trrraaagggaaa aaa suuuuaaaaa ooofeeerrrtttaaaaa.


E lá foi o povão outra vez. Delírios, ovações, gritarias e quase desespero. Vimos inúmeras pessoas preenchendo cheques, escrevendo em papel. O povão estava anestesiado, pereciam estar sob efeito de analgésico. Ninguém sentia a dor do pecado.


Resolvemos sair. Espanto. Na porta um homem de aproximadamente um metro e noventa segurava uma maquininha de cartão de crédito e clama. Não saia sem deixar a sua oferta de gratidão. Este é o selo da sua benção.


Nos dirigimos ao nosso carro apressadamente. Quando nos acomodamos no interior do carro, suspiramos quase que juntos, sentimos um tremendo alivio por termos saídos daquele lugar.


De um modo muito natural, meu amigo pastor me olhou firmemente nos olhos, e numa expressão consciente, sabendo exatamente o que dizia, exclamou em alta voz:


- Bando de ladrões, arrastão nas igrejas.E você como vê ?

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